Podem me chamar de saudosista o quanto quiserem. Sou mesmo saudosista, assumo este rótulo com o maior prazer. E que delícia é a saudade que tenho!
Do que estou falando? Dos anos 60, é claro! Dos famosos Anos Dourados que tivemos o privilégio de desfrutar. Havia politicagem, desfaçatez de políticos, empresários e policiais corruptos? Havia roubalheira e bandalheira? Sem dúvida que sim, e as músicas de carnaval e peças do Teatro Rebolado atestam que sim. Mas e nós, os de l7-l8 anos, o que fazíamos? Aguardávamos o momento de ingressar na Faculdade para então nos tornarmos politicamente corretos. Enquanto isso, dançávamos, flertávamos e namorávamos ao som de músicas maravilhosas e românticas. Querem se lembrar? Aí vão: Only You e todo o repertório do The Platers; Aquejos Ojos Verdes com Nat King Cole, Trio Los Panchos e outros; Oh Carol com Neil Sedaka; Moonligh Serenate com Ray Conif, Besame Mucho com Lucho Gatica, Trio Los Panchos e outros. A lista é grande e a cada dia recebo mais e-mails de saudosistas como eu, enviando-me estas delícias. A dor de cotovelo era para valer e curti-la era mais gostoso do que coçar o bicho de pé!
Lembro-me que dançávamos o ano inteiro, na Casa de Portugal, no Club Homes, no Salão do Aeroporto, no Clube Militar, no Banco do Brasil e ainda de quebra em pequenos salões de bairro com as famílias lá, vigilantes. Os bailes durante o ano chamavam-se pró-formatura e tinham a finalidade de arrecadar fundos para os bailes de formatura, quando então dançávamos a apoteose do ano! O gostoso é que havia boas orquestras que, tocando aquelas músicas, tornavam esses bailes sem igual, Silvio Mazuca e outros. E como caprichávamos! Os rapazes vestiam smokings ou samers. O mínimo que usavam era o terno. Sapatos brilhando de graxa e flanela. Nós, as moças, copiávamos nossos modelitos das atrizes holywoodianas, Doris Day, Lana Turner, Marilyn Monroe, Elisabeth Taylor, Sofia Loren, Gina Lolobrigida. Que arraso, que furor quando chegávamos ao salão!!! Lindos vestidos com saias amplas, rodadas, que se movimentavam lindamente pelo salão. Vestidos com grandes decotes nas costas, frente única, tomara que caia e de quebra luvas de cetim, às vezes até o cotovelo. Saltos agulha super altos, dourados, prateados, vermelhos, e que não nos impediam de dançar a noite inteira. Tudo era romântico e induzia o romantismo. O que bebíamos? Cuba Libre, claro! Rum com Coca-Cola e uma rodela de limão. Pena que era um tempo de poucas fotografias, e por isso muitos de nós não possuam registros desta fase. Mas, não há melhor fotógrafo que nossa mente, que revela suas fotos na memória e que envia essas imagens ao coração e o fazem bater aceleradamente!
Não, não me peçam para deixar esta saudade de lado. Esta é a saudade que gosto de ter, sem dúvida alguma, e vou cultivá-la o máximo que puder! Meus amigos, também saudosistas, não deixem de continuar enviando-me aquelas músicas que tanta emoção me trazem!
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