A rapaziada da Vila Clementino

Nos anos de 1960, formávamos na Vila Clementino uma belíssima turma de rapazes, cujo passatempo era bem diferente dos quais vemos hoje praticados pelos rapazes quem têm idades equivalentes às nossas naqueles anos. Não bebíamos, nem fumávamos, frequentávamos cinemas, íamos a bailes, participávamos de festas em residências, pois éramos convidados, sem nenhuma prevenção, já que éramos conhecidos e não havia nada em nosso comportamento que pudesse nos desabonar e impedir o nosso relacionamento com as famílias que mantinham padrões imutáveis de vida; 22h00 todas as moças deveriam estar de volta às casas, pois os pais as estariam esperando acordados.

Após o cumprimento desses nossos compromissos sociais e para encerrar a noite, reuníamos na Lanchonete Finesse, que era nos baixos de uma residência que ficava na esquina da Rua Pedro de Toledo com a Rua dos Otonis. Ali ficávamos conversando, contando casos e piadas, por vezes alguém se excedia no tom da sua risada. O morador da residência de cima era acordado com tal escândalo que perturbava o seu sossego, como ele dizia ao abrir a janela e gritar conosco.

Uma noite, para nossa surpresa, ele chamou a guarda noturna (corporação existente na época) para nos chamar a atenção. Ficamos muito chateados por este fato, pois sempre atendemos aos seus pedidos, inclusive chamando a atenção entre nós para qualquer exagero que alguém fizesse.

Nesse instante, um dos rapazes teve uma idéia sacana: na segunda-feira, logo pela manhã, colocamos, num jornal, um anúncio de venda da casa do cidadão, que agora havia deixado der ser nosso amigo. O preço proposto era uma pechincha, as condições, irrecusáveis. O imóvel estaria à disposição, para ser visto, a partir daquela mesma noite, após as 22h00.

Foi então que o martírio do nosso ex-amigo começou. A brincadeira foi de mau gosto, mas não causou dano algum a ninguém, por isso fomos perdoados e somos amigos desde então, mesmo que horas de sono tenham sido perdidas para dizer que o imóvel não estava à venda.

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