A eterna escola da vida – Parte IX

Por recomendação do meu cunhado Luiz Gonzaga Fragnan, gerente-administrativo do grupo "CCBE" – Rossi-Servix Engenharia S.A., fui contratado em 1º de agosto de 1973 para assumir o cargo de encarregado do controle e registros contábeis do ativo fixo e investimentos desta empresa.

A sede do estabelecimento ficava no 4º andar, na Rua Sete de Abril, 252, do lado esquerdo do edifício onde funcionavam o ex-Diários Associados, a imprensa, as organizações Rádio Tupã e Rádio Tupi.

O meu salário inicial era de Cr$ 1.800,00 i.é., Cr$ 300,00 a mais do que recebia da firma anterior. O meu superior imediato era o contador-responsável Dorival Figueira, excelente e capacitado profissional e grande colega; o Sr. Américo P. Amaral era o seu assistente direto.

Dentre os auxiliares da contabilidade eu destaco os seguintes colegas: Ayrton Gemente, Nércio Marcelino, Arnaldo Sherizawa, Paulo Hissau Hayashi, Edélcio, Helio Siciliano. Dos demais não consigo lembrar-me, havia muitas mudanças de pessoal.

O presidente do grupo era o Sr. Cincinato Cajado Braga, íntimo amigo do ex-presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. A maioria da diretoria era composta pelos sócios da CCBE (Cia. Construtora Brasileira de Estradas), da Rossi Engenharia S.A. (construção de imóveis e conjuntos habitacionais) e a Servix Engenharia S/A. (construção de pontes, viadutos, barragens, e outras obras pesadas).

O encarregado do departamento pessoal e recursos humanos era o Sr. Oscar Caetano Calafate (português). O chefe do CPD era o Sr. Antão (de origem nipônica), assistido pelo Zanoni.

O Departamento Jurídico era composto pelos drs. Carlos Eduardo de Toledo (tio da rainha da Suécia), Cesar Augusto Pereira, Antonio Gaeta, Samir Ary e seu irmão Roberto Ary.

O departamento técnico e depósito das máquinas e equipamentos ficava no quilômetro quinze da Via Anhanguera. O responsável pelo controle físico do ativo fixo era o Sr. Luiz Orlando Campanille, assistido por José Carlos Nicola e a secretária Suzuki. Ali também funcionava o setor de manutenção e reparos de máquinas, equipamentos, veículos etc.

As informações que recebi eram que, com a saída do meu antecessor, o controle contábil do ativo fixo estava parado há mais de três anos. Cada empresa do grupo usara critérios diferentes; cada uma delas dispunha de fichários técnicos próprios. A minha função imediata seria coletar todo o fichário, conferir a listagem dos itens existentes, o balancete contábil de cada uma delas antes da fusão, inclusive os documentos fiscais, contábeis de aquisição, da correção monetária, das baixas por vendas e/ou perdas, a reavaliação e depreciações. O que veio colaborar para a minha análise era uma listagem atualizada completa, com todos os itens físicos existentes quando assumi o cargo, emitida e fornecida pelo CPD.

A intenção do Dorival Figueira era registrar tudo e começar a programar um sistema completo para controlar os milhares de itens existentes por meio do computador – na época, uma missão quase impossível. Quando estava praticamente pronto, o diretor financeiro desaprovou os nossos estudos, alegando que, na prática, seria bastante dispendioso, impraticável e desnecessário.

Essa nova função exigia de mim: conhecimentos técnicos, contábeis, legais, muita paciência, disposição, dedicação e perseverança.

O tempo ia caminhando e, com a ajuda do Dorival, conseguimos refazer, unificar o fichário, a listagem completa, e com a saída da Rossi Engenharia S/A e a absorção da CCBE, passou a existir somente a Servix Engenharia S/A. Com isso, passados alguns anos, conseguimos entrar na rotina normal, sem nunca desistirmos dos nossos projetos e estudos sobre o assunto.

Em setembro de 1978, o Ayrton Gemente, o Nércio Marcelino e eu já contávamos com tempo suficiente para nossa aposentadoria, e obtivemos a aprovação dos diretores para a sua concretização e continuar trabalhando na empresa, nas mesmas funções. Foi assim que, no dia 30 de setembro de 1978, deixamos a empresa, e no dia 1º de outubro de 1978, fomos readmitidos como novos empregados.

Durante o período que lá trabalhei, sucederam grandes mudanças, principalmente na presidência e diretoria da firma. Após o falecimento de Cincinato Cajado Braga, o Sr. Elias Antonio Antunes assumiu a presidência, o qual, alguns anos após, foi substituído pelo italiano José Ângelo Sestini. Em 1979, assumiu o Sr. Mauricio Nunes de Alencar. Com ele, também assumiu a nova diretoria administrativa financeira o Dr. Antonio dos Santos Martins (meu ex-vizinho da Rua Bueno Brandão, Vila Nova Conceição, e amigo dos meus familiares quando ainda era solteiro).

Logo após esse novo acontecimento, alegando contenção de despesas, decidiram mudar a sede (Rua Sete de Abril, no centro) para as novas instalações construídas na Via Anhanguera, km. 15, e com isso pagar somente um aluguel.

A sede da empresa continuou na Rua Sete de Abril, 252, centro, para contatos e outros assuntos fiscais e administrativos, porém, a maioria do pessoal, incluindo diretores, gerentes e presidência, foi remanejada para o prédio da Rodovia Anhanguera, km 15. Para facilitar o transporte do pessoal, foram contratados ônibus especiais. O restaurante foi ampliado e melhorado para comportar o pessoal e foram estabelecidos horários diversos para acomodá-lo por categoria.

Alguns anos depois, surgiram problemas financeiros, falta de obras e receitas. Por isso, a empresa viu-se obrigada a assumir a concordata. Em 30 de novembro de 1982, fui demitido por acordo e readmitido em 1º de dezembro de 1982 e demitido novamente em 28 de fevereiro de 1995, pois a Servix Engenharia S/A. foi negociada pela Construtora Tratex S/A. e mudou-se para Belo Horizonte.

O contador Américo P. Amaral faleceu pouco antes de ser demitido. Fui convidado a substituí-lo e lá permaneci, como profissional liberal autônomo, até o dia 10 de agosto de 1997. Fiquei em companhia do grande e saudoso colega e amigo Ayrton Gemente; do diretor administrativo e financeiro, Dr. Antonio dos Santos Martins; do encarregado do setor fiscal, Carlos Henrique de Freitas Valério (Pelé); do Renato Silva (relações públicas); do João Moreira de Souza (departamento pessoal); da Maria do Socorro (contas a pagar); e do descendente de japonês, que não me lembro do nome.

Nessa escola da vida permaneci durante praticamente vinte e quatro anos. Conheci muita gente simples, famosa, importante, inteligente. Poderia ter continuado, mas decidi dependurar as minhas "chuteiras" com honra e, dali para frente, assumir o meu lado artístico: pianista amador e tenor lírico profissional.

Se eu soubesse, teria abraçado a carreira quando ainda era mais jovem. Hoje, com quase 78 anos de idade, recebo incentivo e aplausos espontâneos e de "graça". Eu gosto! É um prazer imenso ser comparado aos famosos do passado e atuais.

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