Nasci e estudei na Mooca, do primário até o segundo colegial. No primário foi no Oswaldo Cruz da Rua da Mooca e no ginásio e colegial, no Firmino de Proença, na mesma rua, mas lá perto do Parque Dom Pedro. O meu ginásio foi caprichado: fiz em 6 anos. Repeti o primeiro e o quarto ano e este, sem dúvida alguma, foi o melhor ano de toda minha vida escolar. A gloriosa “4ª. Serie B” do ano de 1968 do período da manhã.
Era a primeira tentativa de um colégio estadual para fazer classe mista com meninos e meninas. Dizia-se na época que o Firmino era o segundo melhor colégio do estado de São Paulo. O primeiro ficava ali pertinho, era o colégio do Parque Dom Pedro – O Estadual de São Paulo. Nessa classe eu conheci e me tornei amigo do que é meu melhor amigo até os dias de hoje, o Ovo – Flávio.
Nós dois éramos uma dupla infernal. Tudo que era possível para valorizar nossas traquinagens e aventuras dentro do Firmino, fazíamos sem dó e sem piedade. Aprontamos muitas e boas. O resultado disso foram aproximadamente 7 suspensões individuais e umas 5 ou 6 coletivas. Na verdade, as coletivas eram de uns 5 colegas ao todo: o Gilberto Penteado, O Nelson D'Abreu, o Alfredo, o Ovo e eu. Às vezes ia o Antonio Carlos Boudaer de embrulho. Lá existia, e com certeza muitos dos que irão ler esta história vão lembrar, a inspetora de alunos, Dona Concheta.
Ela era uma senhora de seus 50 e poucos anos, cabelos brancos, baixa, agitada, dona de um português sofrível – sotaque carregado de pessoa que veio do interior de São Paulo, que amava e tratava bem o pessoal do científico – o pessoal do blusão verde, e odiava a molecada do ginásio – os de blusão azul. Era a protegida da diretora Dona Helena e do professor Carone (esse merece um capítulo especial – o Evaristo que o diga). Todo mês, ao final das aulas, nós deixávamos nossa caderneta escolar em cima da mesa do professor para as anotações de presenças e de notas.
Naquela semana de setembro, Dona Concheta tinha pegado no nosso pé, meu e do Ovo, sem motivo. Tudo bem que éramos dois demônios, mas especificamente naquela semana estávamos quietinhos, tentando passar nas provas bimestrais. E aí resolvemos nos vingar: quando todo mundo saiu da classe pusemos um fio de nylon bem forte amarrado na dobradiça da porta até o pé de uma carteira, atravessado na porta, a um palmo do chão. Sabíamos que a primeira pessoa que entraria por aquela porta para buscar as cadernetas seria ela. Não deu outra.
No dia seguinte, no meio da primeira aula, D. Helena, a diretora, pediu licença para a professora de português e fez a pergunta:
– "Quem colocou o fio de nylon na porta que se apresente!!"
A professora ficou sem entender; os outros colegas também. Só eu e o Ovo sabíamos do que se tratava. Sequer trocamos olhares. Foi então que a D. Concheta entrou, com um belo de um galo na testa e o óculos remendado com esparadrapo pelo meio.
– "Eu tenho certeza, foram aqueles dois ali!"
E adivinhe apontando para quem? Dessa vez nossa turma segurou a onda mais uma vez e lá fomos nós 5 para uma suspensão de uma semana com direito a um chamado dos pais. D. Concheta tinha a mania de fazer tudo com pressa, tinha um andar rápido, além de vir gritando com os alunos desde lá do fim dos corredores do colégio. Entregava todos os malfeitores para a diretora, não tinha acordo com ela. Mais tarde a D. Karin, outra inspetora e a mais legal de todas, nos contou com um certo sorriso no rosto que quando ela tropeçou no fio, "voou", aterrizando debaixo da mesa do professor que ficava em tablado, a uns 3 metros da porta. Foi algo inesquecível. Lembro-me ainda do avental cor de rosa dela, com um rasgo no bolso esquerdo, por conta do tombo, dias depois, quando voltamos da suspensão.
Na próxima conto a da bomba de festa junina que soltamos no banheiro.
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