A calabresa voadora

A exemplo de muitos, sou aficionado por pizza e, de vez em quando, topo atravessar a escuridão do Brás, estacionar o carro na decrépita Rua Jairo Góis e degustar a pizza da Castelões, talvez a mais antiga em funcionamento na cidade.<br><br>Lá, tudo contraria o padrão das pizzarias em geral: os garçons não são simpáticos, a não ser com clientes já conhecidos; inovações como pizzas doces ou sabores extravagantes não são bem-vindos; não aceitam cartão; não tem valet parking…<br><br>Ainda assim, o sabor da tradição é atraente. E lá fomos nós à Castelões.<br><br>Enquanto eu me dedicava a ler o cardápio, mesmo sabendo que iria pedir a mesmíssima "castelões", a mesa estremeceu com um impacto. Atordoado, levantei o cardápio e avistei uma grande e suculenta calabresa ao lado de antiguíssimas caixinhas de azeite vazias.<br><br>Foi muito simples o ocorrido: o frágil e carcomido barbante que sustentava a calabresa se rompeu; esta tocou as caixinhas e o conjunto foi parar a centímetros de nossas cabeças.<br><br>Enquanto os demais frequentadores curiosamente nos olhavam, e os garçons, com indescritível naturalidade, arrumavam a bagunça, só conseguia lembrar do samba de Adoniran em que a "pizza avoava junto com as bracciola".<br><br>Só que, desta vez, o samba no Bixiga deu-se no Brás, bairro do Arnesto e da tradional pizzaria que o tempo parece não ter querido destruir.<br><br>E-mail: [email protected]