Tenho setenta e cinco anos. Meu pai era operário das oficinas da Light, “no Lavapés” ‒ como muitos se referiam àquele começo de Cambuci, quem viesse descendo a Rua da Glória, desde o Centro ‒ por exemplo, de bonde: Rua do Lavapés.
Quando nasci (1947), os bondes ‒ até então lighteanos, desde o início do século ‒ mudaram-se, agora para uma incipiente CMTC, sob cujo comando batalharam por mais vinte anos.
Pois o Dionísio de Medeiros ‒ paulistano do Lavapés ‒ participou dos serviços de reforma e subsequente adaptação, para trilhos paulistanos, na Light mas para a CMTC, dos charmosos bondes americanos comprados pela Municipalidade, naquele retrocitado ano.
Tratava-se dos Huffliner, bondes aqui por alguns “batizados” de Gilda, e que vieram (usados, ainda assim modernos) da Broadway novaiorquina ‒; para mim era o “bonde Avenida Angélica”, confortáveis e bonitos. Sobressaíam, nas ruas.
Como é sabido, bondes transportaram milhões… e também minhas infância e adolescência. Estas, para mim, saudade ‒ aqueles, triste sucata; ambos moram na garagem de minha nostalgia. Sombras, nada mais.
FIM
(Em março de 1968 rodaram os últimos ‒ depois de meio século de vida: eis, pois, minha “homenagem” a motorneiros, cobradores, e demais trabalhadores dos bondes; como meu pai.)