Meus pais compraram um bar na Vila Sônia em 1966, mais precisamente na av. Professor Francisco Morato, 3393. Era um imóvel alugado; um sobrado na parte superior era nossa casa e, na inferior, o bar; nos fundos era um galpão sublocado, normalmente para uma metalúrgica.
E foi justamente nesse ano que a rodovia federal Regis Bittencourt foi inaugurada e a avenida era a interligação entre a capital e o sul do país, deixando de ser a rodovia estadual Raposo Tavares esse acesso.
Meus pais eram espanhóis e trocavam correspondências com meus tios e avós. Ocorre que não existia carteiro em nosso território e apenas uma agência de correio na rua Domingos Barbieri, no Instituto Previdência, vizinho ao colégio Virgília. Então, quando queriam enviar cartas, juntavam-se as mesmas correspondências de outros vizinhos e sempre alguém fazia o trajeto a pé até a agência.
Havia pontes de madeira para transpor o Rio Pirajussara ainda com águas límpidas e peixes, acreditem, muitos campos de futebol de várzea e, ao chegar na agência, encaminhava as cartas. Na caixa postal do nosso pedaço estavam as nossas correspondências, então fazíamos esse “trabalho tão importante dos carteiros” anos mais tarde.
Até meus oito anos eu acompanhava minha mãe ou meu pai nesse trajeto, e fui sendo responsável em fazê-lo sozinho, tendo uma confiança em conhecer as ruas e bairros por outros caminhos, curiosidade essa herdada de meu pai que sempre me incentivou a ter essa visão espacial dos territórios. Foram 16 anos residindo na Vila Sônia.
Hoje resido no Instituto Previdência já há 25 anos e continuo sempre curioso em conhecer histórias das pessoas, dos bairros, parques, praças, eventos, lutas dos moradores, dentre outros conhecimentos importantes na formação de uma cidade, na formação de bairros e de muitas vidas que compõem famílias.
E no levantamento desse meu tempo de vida, parece cada vez maior a importância de ter pertencido e ser parte desta cidade caótica e querida chamada São Paulo de Piratininga.