Era meados de 1997 quando eu, ainda na puberdade, começara a frequentar a Congregação Cristã no Brasil – igreja evangélica frequentada por meu pai.
Me recordo alegremente de como meia-hora antes de iniciar o culto, a irmã organista dirigia-se solenemente ao compartimento onde ficava o órgão para tocar os hinos do prelúdio. Após o que, a orquestra formada por irmãos violinistas, saxofonistas, trompetistas e tubistas, entoavam o famoso hino do silêncio. Hino este que precedia a abertura do serviço litúrgico – quando o irmão cooperador subiria até o púlpito para abrir o santo serviço.
Nos cultos de domingo pela manhã – quando criança – fazíamos fila para recitar versículos bíblicos em frente a toda a congregação. E, enquanto cada um de nós recitava o versículo decorado na noite anterior, o auxiliar de jovens e menores caminhava por detrás de nós, ajudando-nos caso não lembrássemos de alguma frase ou palavra.
Posteriormente, seria eu mesmo quem caminharia por detrás dos meninos, auxiliando-os no recitativo. Uma vez que, quando jovem, tornei-me também auxiliar (embora nunca tenha sido oficializado).
Dentre tantas coisas, eu achava linda a cabeleira branca do irmão Natanael, pois ela me ilustrava muito bem – era como eu imaginava na época – a figura do Ancião de Dias que aparece no Livro do Profeta Daniel, capítulo sete.
Nos sábados de manhã era dia da escolinha de música na igreja. Nela, encantava-me o irmão Quincas, que com muita paciência e doçura ensinava a arte de tocar violino. O irmão Quincas era magrinho, tinha cabelos pretos e um bigode bem espesso.
Ele me contou certa vez que fora acometido pela lepra justamente na mão responsável por dedilhar as cordas de seu instrumento. Foi quando fez um voto ao Senhor, prometendo de que se Deus o curasse, daria aulas gratuitamente para os irmãos que não pudessem pagar. E, embora as aulas na escolinha fossem gratuitas para todos, o irmão Quincas frequentemente pegava seu violino para dar aulas particulares aos irmãozinhos que não tinham como pagá-lo (fora da escolinha).
E foi assim… numa igreja evangélica pentecostal do Bairro Perdizes, que fiz amigos, aprendi a cantar os sacros hinos, li a Bíblia pela primeira vez, e varri o salão da igreja junto ao querido e saudoso irmão Aldinho. Irmão do qual guardo muitas e boas recordações. Meu companheiro de oração e de caminhada cristã àquela época.
Ótimas histórias e lindas recordações daquela época, daquela igreja e daquele bairro.
José Chadan, prof. mestre em filosofia.
Créditos:
Foto dos irmãos cantando: “Central de Guaianases em 1950”, de autoria desconhecida. Retirada do ficheiro da Wikipedia no dia 25/01/2024.
