Ano Novo. Novo?

Sabe, eu não me lembro do ano não. Só sei que ainda não era a década de 70. Portanto, eu não tinha nem batido nos vinte, hoje já estou batendo nos 64. Estava eu assistindo ao mais paulistano de todos os programas de televisão, de ontem, hoje e acho que de sempre. Tevê Record, canal 7: A Praça da Alegria. Por ali desfilavam Ronald de Golias, Borges de Barros, Simplício, Moacyr Franco, dentre muitos outros. Todos eles ancorados pelo inesquecível e insubstituível Manoel da Nóbrega.
 
Sei que era o último programa de um ano antes de 1970, e neste dia o Murilo de Amorim Correia (lembram-se dele? O Comendador Vitório), no lugar de representar o seu costumeiro personagem, estava representando um índio, estranho, porque normalmente quem representava o índio era o Luiz Delfino, mas neste dia quem representou foi o Murilo. Depois do esquete normal, o índio estava se despedindo do Manoel da Nóbrega e ele disse:
– Feliz Ano novo índio.
 
O índio recrutou: 
– Ano Novo? Vai ter Ano Novo?
– Vai, a semana que vem já é Ano Novo – respondeu o Manoel da Nóbrega.
 
O índio então retrucou: 
– Quer dizer que na semana que vem não vai ter mais fome, nem crime, nem criança passando frio e sem escola, todo político vai ser honesto, não vai mais ter guerra, brancos e negros vão ser todos iguais, vai ter hospital para todo mundo? – e outras coisa mais que eu não me lembro.
 
O Manoel da Nóbrega, sem jeito, respondeu: 
– Não “né” índio, não!
 
O índio então respondeu: 
– Então não tem Ano Novo nenhum. “Tá” tudo velho.
 
Pois é, por aí a gente vê que a coisa é antiga, bem antiga mesmo. Quem sabe um dia a gente consiga desejar um “Feliz Ano Novo”, mesmo.