Leia as Histórias
Eu era DOV – Despachante Operacional de Võo da Panair do Brasil. As funções dos DOVs eram fazer planos de vôo e organizar o balanceamento de aeronaves. A elaboração do plano de vôo consistia em análise das condições meteorológicas da rota e na escolha do nível de vôo adequado ao tipo de aeronave para, finalmente, calcular consumo, estabelecer proas e pontos de mudança de rota, alternativas, etc. O balanceamento consistia em, de acordo com o combustível requerido e o número de passageiros, distribuir a carga, o correio aéreo e a bagagem pelos quatro porões da aeronave numa ordem que contribuísse para manter o centro de gravidade dentro de limites aceitáveis e que facilitasse sua localização na escala seguinte. Havia só um vôo por semana para Lima e esse vôo era operado com o Douglas DC-6C, um avião misto, ou seja, além dos porões, tinha um compartimento de carga entre a cabine de comando e a de passageiros. O compartimento de carga vinha do Rio lotado com revistas 'O Cruzeiro Internacional'. Dado que o trecho São Paulo - Lima requeria tanques cheios e que o correio, os passageiros e a sua bagagem tinham prioridade sobre a carga, parte da carga de revistas tinha que ser retirada pra não haver excesso de peso. Assis Chateaubriand, dono da revista, reclamou com a direção da Panair e esta deu ordem para que não mais deixássemos as revistas pra trás. No vôo seguinte novo excesso. Reuni-me com meu chefe, o saudoso Edwin Quillin e o comandante Danilo. Propus uma decolagem de Congonhas para Cumbica, abastecimento total ali e decolagem para Lima, já que a pista de Cumbica oferecia condições para decolagem com peso máximo. Danilo disse para manter o excesso e fazer o calculo da decolagem para a pista 34*. A favor do vento! A razão era que há um gradiente de 1% entre as cabeceiras, ou seja, a cabeceira 34 (Jabaquara) é cerca de 20 metros mais alta que a cabeceira 16 (Indianópolis). Desse modo ele aproveitaria a descida. Fiz como solicitado, mas me recusei assinar o relatório. O Edwin, meu superior, assumiu a responsabilidade e assinou. Fomos para o pátio ver a decolagem. O avião comeu toda a pista e saiu polindo antenas de TV do bairro até desaparecer contra a silhueta do morro do Jaraguá. Foi um vôo bem sucedido. O DC-6C, como todo quadrimotor, sai do chão com peso total em apenas 3 motores. Danilo confiou na sorte de não perder um motor na decolagem.
(* Hoje, em razão da variação magnética da Terra, as pistas são 17/35, ou seja, na pista 17 sua bússola estará mostrando o rumo magnético de 170º (mais precisamente 167º).
Danilo Marques Moura, comandante da frota dos DC6-C, costumava dizer-se carroceiro e que a cabine de comando era a boléia. Sempre distribuía chicletes de bordo ao pessoal de terra e gostava de brincar com todos. Piloto de combate da esquadrilha verde, na II Guerra Mundial, e acumulando a função de chefe da garagem de veículos, realizou 11 missões de guerra. Sua primeira missão foi em 19 de novembro de 1944. Ao cumprir sua 11ª missão, em 04 fev 45, foi abatido pela artilharia antiaérea inimiga a sudoeste da cidade de Treviso, Itália, saltou de pára-quedas a baixíssima altura, tendo tocado o solo segundos após a abertura de seu pára-quedas. Caiu sentado e na violência do impacto mordeu sua língua provocando dificuldades para falar. Notei essa dificuldade em nosso primeiro contato. Foi socorrido e escondido por simpatizantes. Cansado da vida de esconderijo — contava-se que ele chegou a viver com sua hospedeira —, resolveu tentar regressar às linhas amigas. Contrariando todas as instruções quanto à fuga, conseguiu retornar às linhas amigas andando, a pé e de bicicleta, mais de 340 km, utilizando-se da luz do dia e das estradas principais. Sua história tem sido narrada muitas vezes em livros e revistas. Danilo era o irmão caçula do comandante Nero Moura, que mais tarde veio a ser Ministro da Aeronáutica. Ao retornar para Pisa, continuou na sua função de chefe da garagem, porém não pode efetuar mais nenhuma missão de guerra, pois caso fosse novamente abatido e tomado prisioneiro, poderia ser considerado pelo inimigo como sendo um espião e certamente seria executado. Saiba mais sobre esse que foi meu amigo em http://www.sentandoapua.com.br/
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Lourdes Enviado por Maria de Lourdes Solera Bitetto - ludisole@gmail.com
Mas a lembrança maior foi em 1959, quando fomos jogar futebol ao lado do aeroporto, um campo de terra vermelha a tarde, com um sol que era uma loucura. Quando acabou o jogo do seguindo quadro, a sede era tanta que bebemos água de uma valeta que tinha no pé do morro, do aeroporto. A, água era branquinha. Para a gente era uma mina que brotava lá da terra. Mas quando não se tem gato, caça com cachorro, o negocio foi molhar o bico. Enviado por Mário Lopomo - mlopomo@uol.com.br
um avião diziam que era japonés... a fuselagem
se soltava... a ass era em cima... horrivel... foi uma aventura... Enviado por Benedito - blfer@terra.com.br
Mardoqueo SANTIAGO
Técnico em Manutenção de Aeronaves
Brasília - DF Enviado por Mardoqueo Santiago de Araujo - mardoqueoaraujo@yahoo.com.br
Penso que você deveria continuar escrevendo histórias sobre a sua vivência na navegação aérea e junto ao Aeroporto de Congonhas.Elas são bastante úteis e interessantes e nós como não estamos familiarizados com essa temática, ficamos completamente por fora.Aguardamos então próximos pronunciamentos. Um abraço a você.
Gostaria que nos contasse como está o bairro próximo ao Aeroporto de Congonhas e saber também sua opinião sobre os controladores de võo e a crise da aviação brasileira. E parabéns outra vez pelo seu relato. Muito bom! Enviado por Clesiodeluca - clesiodeluca@yahoo.com.br