Leia as Histórias
Hoje em dia moleque de rua nos dá a sensação de ser um menino ou menina que mora na rua, daqueles que encontramos nos semáforos limpando vidros de carros, fumando crack na Praça da Sé ou dormindo sobre as marquises dos prédios.
Não é sobre eles que eu estou me referindo e sim sobre um “tipo” de criança que há 50, 60 ou mais anos atrás existia em todos os bairros desta capital. Esses eram completamente diferentes. Com o passar dos anos foi adquirindo uma denominação depreciativa como "de menor" ou "pivete", pois já não eram mais representantes de um ” tipo” em particular.
Havia vários tipos deles, entre os quais eu me incluo, que não se constituíam em um seguimento social homogêneo. Moleque de rua ou “rueiro” como minha mãe me chamava, tinha que ter obrigatoriamente pai, mãe, tia e avós, podia ter ou não uma língua diferente dentro de casa ou um sotaque residual deixado por outras gerações, podia morar em uma casa grande ou bem pequena, daquelas apena com portão e janela para a rua e talvez uma grade na altura da calçada para ventilação do porão, mas isso não era obrigatório, não importava.
Geralmente vinham de uma família que trabalhava duro para conseguir seu sustento. Podia não andar bem vestido, mas as roupas no começo do dia eram asseadas e limpas demonstrando o carinho dos progenitores, mas que no fim do dia eram os objetos de muita reclamação. Moleque de rua tinha que obrigatoriamente estudar, mesmo que isso representasse apenas ir para a escola todos os dias e receber puxões de orelha com alguma frequência, digamos assim.
Havia os moleques de rua que quebravam vidraças chutando bolas, tocavam campainhas e saiam correndo, aqueles que colocavam chicletes nas cadeiras, os especializados em furtar doces nas vendas independente de ter ou não dinheiro nos bolsos, os brigões, os que subiam em árvores, e aqueles que irritavam as mães por que todos os dias vinham chamar seus amigos que tinham um gesso em algum lugar do corpo, não sei por que, mas geralmente eram meninas. Eles sempre andavam em turmas. Não existia o termo "moleca de rua", embora elas existissem em número um pouco menor ou igual.
O moleque de rua podia ser encontrado facilmente nos bairros do Brás, Ipiranga, Mooca, Santo Amaro e outros a qualquer hora do dia, mas eles não ficavam na rua de madrugada, sempre havia limites impostos pela família.
À noite, por volta das 9 horas para as meninas e 10 horas para os meninos, a mãe começava a chamar o moleque de rua para entrar em casa e parar de brincar, sem muita convicção. Era uma espécie de aviso prévio, um sinal de que o limite estava esgotado. Depois chamava outra vez e o tom de voz já havia mudado. O moleque de rua sabia que tinha direito a prorrogação do tempo. Quando o pai assoviava ou chamava, ai sim era melhor obedecer.
Não havia o medo da violência e o trânsito raramente incomodava, embora sempre se ouvisse o aviso "cuidado com os carros", mas isso era uma preocupação dos pais, não deles.
A resposta era sempre a mesma:
- já vou, mãe !
Continuava correndo, suando, com o nariz escorrendo, sujando as roupas e terminando o dia com mertiolate ou esparadrapos em algum joelho, cotovelo ou testa.
Quando entrava em casa era obrigatório ouvir a frase:
- vai já lavar esse pé imundo!
Lavar o pé não era a mesma coisa que lavar a mão, ou tomar banho, era como dizem: uma responsabilidade perante a família e a sociedade, um ritual, embora nenhum moleque soubesse definir o que era isso. Concordo que houvesse um certo carinho maternal naquela ordem que era comprida com alguma chateação e sempre era supervisionada no final, o que poderia implicar em uma nova ensaboada.
Aqueles que ultrapassavam o limite do horário recebiam uma ardente chinelada nas nádegas o que hoje em dia contraria a mais moderna psicologia. Os chinelos ardiam nos bairros de São Paulo, mas não deixavam marcas, só lembranças.
newtonsismotto@hotmail.com
Você precisa estar logado para comentar esta história.
A São Paulo Turismo não publica comentários ofensivos, obscenos, que vão contra a lei, que não tenham o remetente identificado ou que não tenham relação com o conteúdo comentado. Dê sua opinião com responsabilidade!
AO, FURAVA O PÉ NO PRFGO, E ESTUDAVA COM O LIVRO "CAMINHO SUAVE" FOI MARAVILHOSO, VIVEMOS A VERDADEIRA INFANCIA,NA SAUDOSA PENHA DE FRANÇA, ABRAÇOS RUBÃO Enviado por RUBENS ROSA - RROSA49@YAHOO.COM.BR