Leia as Histórias
Astênico. Sempre fui um astênico.
Minha mãe brincava dizendo que a primeira frase completa que eu disse foi:
- "Não quero comer".
Esse era um dos motivos pelos quais meu pai me levava para pescar no Riacho do Ipiranga, na esperança de que, ao passar pelas alamedas arborizadas do bairro e ficar um pouco ao ar livre nas suas margens meu apetite melhorasse um pouco.
Diziam que só um grande susto poderia curar definitivamente minha astenia. Não sei! Meus pais nunca acreditavam muito nessas histórias contadas pelos mais velhos.
Esse riacho nasce no bairro da Água Funda, dentro do Parque do Estado, é aquele mesmo que visto da Rodovia dos Imigrantes todo gradeado com copas de árvores altas, alcança o Museu do Ipiranga e deságua no rio Tamanduateí. Quem anda de bicicleta pela Marginal do Rio Pinheiros hoje em dia pode observar muitas capivaras nas suas margens. Essas são remanescentes das que existiam nas margens do riacho há muito tempo atrás, muito maiores e em maior número.
Costumávamos andar a pé do Museu até sua nascente. Às vezes nos acompanhava um amigo dele, o senhor Ernesto, que nunca acendia o cigarro de palha quando eu estava por perto.
Certa vez, no caminho, pegamos um pequeno barco de madeira que ficara esquecido na margem, quando após alguns minutos de navegação contra a correnteza nos deparamos com uma capivara imensa atravessando o riacho. Meu pai no leme viu o senhor Ernesto na proa jogar a corda de amarração do barco em volta do pescoço do animal e esse nos levava ora correnteza acima ora correnteza abaixo e novamente para cima e para baixo quando, em certo momento, a capivara mudou de rumo e se dirigiu para a margem, próximo ao local onde Dom Pedro deu o famoso grito.
Já de posse de um facão achado sob o banco do barco o seu Ernesto gritava para o meu pai:
-"Mantenha o leme reto que eu dou conta da corda".
Eu era pequeno, astênico, e estava apavorado quando a capivara subiu pelo barranco por entre as árvores e arbustos, puxando o barco por mais ou menos 700m mata adentro, enquanto o senhor Ernesto gritava a plenos pulmões para o meu pai:
- "Mantenha o leme firme que dos galhos e tocos eu dou conta com o facão".
A corda arrebentou e o animal desapareceu por entre a folhagem. Puxamos o barco de volta para a margem e retornamos à pé para casa. Depois disso fiquei completamente curado da astenia e hoje faço regime para emagrecer.
Não sei o motivo, mas sempre que eu passo pelo local me vem à mente esse episódio.
E tenho dito.
E-mail: newton_sismotto@hotmail.com
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Alexandre Enviado por alexandre ronan da silva - alexandreronan@gmail.com
abraços, conta outra, conta... Altair Siqueira Enviado por Altair Siqueira - asiqueira@hotmail.com