Leia as Histórias
Em 1967, a Rua Ituverava, na Vila Prudente, estava sendo pavimentada. Os paralelepípedos eram rejuntados com piche derretido e nunca mais aquele cheiro me saiu da memória.
Eu costumava aguardar o ônibus escolar na esquina da Rua Ituverava com a Rua Capitão Pacheco Chaves, justamente nessa esquina, os operários puseram um imenso tambor de piche, que passava o dia cozinhando numa fogueira.
Aguardando o ônibus, pus-me a brincar com o piche. Apanhando um pauzinho que havia por ali, mergulhava-o no tambor e depois de bem bezuntado, colocava-o no fogo para “vê-lo chiar”.
Nesse ínterim, o ônibus escolar passou e não me vendo no local de costume, foi embora, mas dando-me ainda tempo suficiente para vê-lo entrar na Avenida Paes de Barros, enchendo-me de pavor ante a perspectiva de retornar para casa e dizer à minha mãe que perdera o ônibus porque estava brincando.
Que fazer? Tomar um ônibus estava fora de cogitação, porque era preciso pagá-lo e eu não tinha um níquel nos bolsos. Poderia passar por baixo da catraca, como fazia sempre que estava com minha mãe. Mas eu estava só, o que eu diria ao cobrador? Aí me veio uma idéia salvadora: os táxis não possuem catraca, nem cobradores.
Fui até o Largo da Vila Prudente onde havia um ponto de táxi e entrei no primeiro que vi. Era um Chevrolet preto, provavelmente da década de 1940. Sentei-me no banco traseiro (como via todo mundo fazer) e, cheio de importância, ordenei ao motorista: "Colégio São Judas Tadeu, por favor!".
O motorista era um senhor de uns cinquenta anos, com um forte sotaque italiano. Seu nome era Américo, se a memória não me falha. Achando graça nos meus modos, foi puxando prosa e eu me senti muito aliviado, quando soube por ele que chegaríamos a tempo de eu não perder a aula. Foi quando atentei para o taxímetro. Julguei que fosse um relógio, devido aos seus "tic-tacs", mas não entendia que horas estaria marcando.
-"Má questo no é um relógio. É um "tachímetro!”.
Ignorei sua utilidade, ele respondeu:
-”Serve pra cobrai os passagêro!".
- “Eu teria que pagar, então?”
- "Má craro! Ío num trabalho di grazie! Num vá me dizê qui tá senza soldi nos borso?".
Estava! Desconcertado, dando murros no volante, me fez fornecer meu endereço dizendo que iria receber a corrida em casa. À noite, quando voltei da escola (com o ônibus), meus pais me passaram uma descompostura e alertaram-me sobre os perigos que corri com a aventura. Em pouco tempo, a família inteira já conhecia a história, que foi recontada por muitos anos.
Quarenta anos passados, rendo minha homenagem àquele taxista, que ignoro se ainda vive.
Muito obrigado, Sr. Américo. Fique com Deus!
E-mail: corisco15@yahoo.com.br
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Só não sei o que fe-lo pegar o táxi, se a coragem, ou o medo dos seus pais....Seus texto foi nota 10. Parabéns. Enviado por xico lemmi filho - franciscolemmifilho@yahoo.com.br
Modesto Enviado por Modesto Laruccia - modesto.laruccia@hotmail.com